Um dia destes, em conversa de família, ouvi um comentário aliviado de uma parente, de que “a vida dela estava mudando”, pois havia encontrado um alimento, do tipo sobremesa láctea, cujo rótulo dizia conter “zero gorduras” e poucas calorias. Agora sim, ela acreditava que poderia continuar ingerindo tal sobremesa sem engordar.
Evidentemente que o teor de gorduras de um alimento é sim uma importante informação nutricional. E que vários consumidores entendem esta informação: “zero gorduras” e a levam em consideração em suas escolhas.
A função da rotulagem nutricional é informar ao consumidor tudo que aquele produto oferece. Uma rotulagem adequada pode melhorar, e muito, a vida da população, e até mesmo salvar uma vida. Visto que o número de indivíduos obesos, crianças e adultos hipercolesterolêmicos, hipertensos e intolerantes e alérgicos a certos alimentos, tem aumentado no mundo todo.
Entretanto, ainda estamos muito distantes de uma condição ótima em termos de informações nutricionais e de aproveitamento, da forma correta, por parte dos consumidores, pelos seguintes motivos:
a) uma enorme variedade de itens ainda é fartamente encontrada nas prateleiras de padarias e supermercados, sem conter a informação obrigatória, em um claro desrespeito às leis e ao consumidor;
Ao caminhar por grande parte das padarias, observamos quase sempre itens expostos à venda em prateleiras, devidamente embalados, como bolos, tortas, biscoitos e outros produtos de confeitaria contendo peso, preço e, algumas vezes, lista dos ingredientes, sem que exista a informação nutricional e as demais declarações obrigatórias.
b) mesmo quando presente, a informação nutricional muitas vezes não corresponde aos fatos. É frequente encontrarmos em pontos de venda produtos cuja tabela nutricional foi descaradamente copiada de outros produtos, similares ou nem tanto (o que é ainda pior), fato que fica claro aos olhos de um profissional da área, mas passa totalmente desapercebido aos consumidores.
Encontrei um dia destes, em uma padaria, sorvetes de vários sabores com a mesma lista de ingredientes e informação nutricional, ou seja, o sorvete de limão e de doce de leite possuíam a mesma quantidade de nutrientes.
Quando observei isso quase comprei o freezer todo, pois estava diante de algo surpreendente: um sorvete que, pela sua composição é rico em gorduras e açúcares, nesse caso era saudável e poderia ser consumido tranquilamente, não fosse o fato de estar sendo enganada.
Outro grande absurdo encontrei em um supermercado: o rótulo de sal grosso temperado informava que não havia sódio em sua composição. Isso porque o sal é um composto constituído de sódio e cloro!
c) e por fim, mesmo quando presentes, as informações nutricionais corretas e seguindo a lei, o consumidor pode não interpretá-las da forma adequada, pois não sabem “ler” a informação nutricional.
Se prendem aos dizeres apresentados em grande destaque, como por exemplo, “não contém gordura trans”, mas não observam a porção declarada para aquela quantidade de nutrientes, sendo forçados ao erro. Os próprios fabricantes se aproveitam desse fato para, muitas vezes, diminuírem a porção declarada ao ponto de informarem como “zero” ou “não contém”.
A porção declarada em gramas e medida caseira na informação nutricional, nada mais é do que a quantidade média do alimento que deveria ser consumida por pessoas sadias, maiores de 36 meses, em cada ocasião de consumo, para promover uma alimentação saudável.
Bom, neste quesito, somente o tempo e campanhas educativas que orientem o consumidor podem ajudar os usuários a aproveitarem melhor as informações contidas nos rótulos.
Em resumo, a reflexão que faço é: eu sou uma leitora frequente de rótulos e das informações nutricionais dos produtos que consumo. E esta “leitura” é muito útil em minha vida, ajudando a tornar minha alimentação mais saudável e adaptada às minhas necessidades. Afirmo com segurança que deixei de consumir muitos produtos (e sequer experimentei outros tantos) por não identificar em seus rótulos as informações nutricionais obrigatórias. A inexistência é ilegal e um sinal de falta de consideração com o consumidor.
Tenho certeza que se empresários atentassem mais a este procedimento, muitos consumidores, como eu, se sentiriam valorizados e seriam mais fiéis às suas marcas. Já é tempo. Alimentos e saúde são coisas indissociáveis. Seriedade empresarial e cumprimento das leis, também.
Precisamos fazer escolhas conscientes, para isso, é indispensável conhecer os alimentos que estamos comprando e consumindo.
Luiza Crozariol Campos é nutricionista e diretora da Qualisan Consultoria.